domingo, 27 de outubro de 2013

Os Operários da Minas, segundo o "Germinal" de E. Zola


II - O trabalho na mina


Um a um, caminhavam todos, sem dizer palavra, à luzinha das lâmpadas. O rapaz [Estêvão, um mineiro novo] tropeçava a cada passo, metia os pés pelos carris. (...)

Mais adiante apresentou-se uma encruzilhada, abriam-se duas novas galerias; e o bando dividiu-se outra vez, pouco a pouco os operários repartiam-se por todas as secções da mina. (...) Atrelados de churriões (1), cheios ou vazios, passavam constantemente (...) Portas de ventilação batiam, fechavam-se lentamente. E, à medida que se avançava, a galeria fazia-se mais estreita e mais baixa, de tecto desigual, forçando as espinhas a dobrarem-se continuamente.

O Estêvão, rudemente, batia com a cabeça. Se não fosse o chapéu de couro, ficava com o crânio rachado. Todavia, seguia com atenção, na sua frente, os menores gestos do Maheu, cujo perfil sombrio se destacava do clarão das lâmpadas. (...) O rapaz sofria também com o escorregadio do chão, cada vez mais encharcado. (...) Mas o que sobretudo o espantava eram as bruscas mudanças de temperatura.

[Os mineiros prosseguiram o seu caminho até ao local de extracção]Era o veio onde se encontrava o seu corte. Logo às primeiras passadas, o Estêvão esbarrou com a cabeça e com os cotovelos. O tecto, oblíquo, descia tanto, que, em comprimentos de vinte e trinta metros, era necessário caminhar dobrado em dois. Dava-lhe água pelos tornozelos. (...)Andou-se assim duzentos metros (...).

Ao cabo de uns quinze metros, encontrou-se o primeiro caminho secundário, mas foi necessário continuar, o corte do Maheu e dos companheiros era no sexto carreiro, nas profundezas do Inferno, como eles diziam; e, de quinze em quinze metros, os carreiros sobrepunham-se, a subida era um nunca acabar, através daquela fenda que esfolava as costas e o peito. O Estêvão agonizava - com as mãos alquebradas, as pernas magoadas, a faltar-lhe sobretudo o ar a ponto de sentir o sangue espirrar-lhe da pele. Vagamente, num carreiro, avistou dois animais agachados, um grande e outro pequeno, empurrando churriões; eram a Lídia e a do Mouque, já trabalhando. (...)



[Finalmente começaram a trabalhar]Os quatro cortadores acabavam de se estender uns por cima dos outros, em toda a subida do corte. Separados pelas tábuas de ganchos que dividiam o carvão, ocupavam cada um pouco mais ou menos quatro metros de veio; e esse veio era tão delgado, com os seus cinquenta centímetros apenas de espessura naquele ponto, que estavam como que entalados entre tecto e parede, rojando-se sobre os joelhos e os cotovelos, sem se poderem virar que não magoassem as espáduas. Para cortarem a hulha tinham que estar deitados de lado, com o pescoço torcido, os braços erguidos, e brandindo de viés a picareta de cabo curto.




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(1) Churrião

No contexto: espécie de cesto ou vagão usado nas minas para transportar o minério. Pode rodar sobre carris e ser puxado por pessoas ou por animais.

2 comentários:

Mariana Plácido nº 19 9ºF disse...

Olá professora achei este blog muito interessante porque fala sobre coisas do 25 de Briol e têm a historia de segundo " Germinal" de E.Zola e como eu não conhecia fiquei a conhecer mais um bocado sobre a vida do operariado.
E está muito bom para estudarmos e foi o que eu já fiz.
Cumprimentos,

Fátima Pereira Stocker disse...

Mariana, obrigada pelas tuas palavras. Tenho a certeza de que saberás aproveitar.

Até amanhã