terça-feira, 26 de novembro de 2013

Propaganda Republicana

Falei-vos deste poema na aula, a propósito da propaganda republicana. Importa lê-lo com muita atenção e acrescentei algumas notas para vos ajudar a compreender melhor o seu sentido.
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O CAÇADOR SIMÃO
(a Fialho d'Almeida)
Jaz el-rei entrevado e moribundo (1)
Na fortaleza lobrega e silente ...
Corta a mudez sinistra o mar profundo ...
Chora a rainha(2) desgrenhadamente ...


Papagaio real, diz-me, quem passa ?
_É o princípe Simão (3)que vae à caça.

Os sinos dobram pelo rei finado ...
Morte tremenda, pavoroso horror !...
Sae das almas atónitas um brado,
Um brado immenso d'amargura e dor ...


Papagaio real, diz-me, quem passa ?
_É el-rei(4) D. Simão que vae à caça.

Cospe o estrangeiro affrontas assassinas
Sobre o rostro da pátria a agonisar ...(5)
Rugem nos corações furias leoninas,
Erguem-se as mãos crispadas para o ar !...(6)


Papagaio real, diz,me, quem passa ?
_É el-rei D. Simão que vae à caça.

A Pátria é morta ! a Liberdade é morta !
Noite negra sem astros, sem faroes !
Ri o estrangeiro odioso à nossa porta,
Guarda a Infamia os sepulchros dos Heroes!


Papagaio real, diz-me, quem passa ?
_É el-rei D. Simão que vae à caça.

Tiros ao longe n'uma lucta accesa!
Rola indomitamente a multidão ...
Tocam clarins de guerra a Marselheza ...
Desaba um throno em subita explosão !...(7)


Papagaio real, diz-me, quem passa ?
_É alguém, é alguém que foi à caça
Do caçador Simão ...(8)
(Vianna do Castello, 8 d'abril de 1890.Guerra Junqueiro)
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(1) Trata-se, naturalmente, do rei D. Luís. O poema refere-se à agonia do rei e acusa-se o filho, D. Carlos, de ser indiferente: só a caça lhe interessa!
(2) A rainha D. Maria Pia, esposa de D. Luís. Junqueiro usa o advérbio "desgrenhadamente", aludindo, de forma crítica, à maneira de ser da rainha, pessoa muito afectuosa e emotiva que se não coibia de expor os seus sentimentos em público.
(3) O caçador Simão era Carlos Fernando Luís Maria Víctor Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis José Simão: o rei D. Carlos.
(4) Note-se que, a partir daqui, já não é "o príncipe", é o "rei" Simão quem continua a ir à caça e é enquanto rei que D. Carlos é acusado de indiferença pelos males da Pátria.
(5) Referência óbvia ao Ultimatum britânico.-
(6) Referência às manifestações populares contra o Ultimatum e a cedência nacional face aos ingleses. Se só o rei é aqui citado, é porque se acusa o rei, pessoalmente, e a monarquia, em geral, de serem os responsáveis pela decadência nacional e pelo descrédito internacional de Portugal. Como sabemos, essas manifestações pouco tinham de espontâneas, pois eram quase todas organizadas pelos republicanos (PRP) e pelos monárquicos da oposição política.
(7) Apelo à revolução republicana
(8) Apelo óbvio ao regicídio!


domingo, 27 de outubro de 2013

A Literatura e a História

Os dois artigos colocados abaixo deste são excertos da obra "Germinal" de Émile Zola.

Zola é um escritor francês do séc. XIX que, incomodado pela vida dura dos operários, tomou o partido deles e transformou-os em protagonistas desta sua obra magistral. Gostaria muito que lesses com atenção os excertos que escolhi e meditasses sobre eles. Depois, por favor, responde às seguintes perguntas:

1 - Em que condições de habitação, higiene e privacidade viviam as pessoas da família Maheu?

2 - Quantas pessoas compunham aquele agregado familiar? Dessas, quantas e quais trabalhavam? Como eram os salários de cada uma delas? De quanto em quanto tempo recebiam o salário?

3 - Que pensas da relação salário / esforço dos mineiros?

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Para quem tem jeito: ilustrar uma das cenas descritas nos artigos.

Atenção: não respondas no espaço dos comentários. Escreve uma mensagem e envia-a para o endereço deste blog:
mpstocker@gmail.com

Quanto às ilustrações, prometo publicar as melhores.

Os Operários da Minas, segundo o "Germinal" de E. Zola


I - A família e a casa

Em casa dos Maheu, no número 16 do segundo bloco, nada se tinha movido. Trevas espessas afogavam o único quarto do primeiro andar, como que esmagando com seu peso o sono das criaturas que se adivinhavam ali a monte (...). Apesar do frio vivo do exterior, o ambiente, pesado tinha um calor de vida, esse cheiro requentado dos mais asseados dormitórios, que cheiram a gado humano.

Deram quatro horas no cuco da sala do rés-do-chão (...). Bruscamente, a Catarina levantou-se. Apesar do cansaço, tinha, pela força do hábito, contado as quatro badaladas do relógio, através do soalho, sem encontrar forças para acordar de todo. Depois, com as pernas de fora da roupa, apalpou, riscou um fósforo e acendeu a vela de sebo. Mas ficara-se sentada à beira do enxergão, com a cabeça tão pesada que se lhe bamboava de ombro para ombro, cedendo à invencível necessidade de tornar a cair sobre o travesseiro.

Agora, a vela alumiava o quarto, quadrado, com duas janelas, atravancado com três camas. Havia ali um armário, uma mesa, duas cadeiras de velha nogueira (...). E mais nada, a não ser trapos suspensos de pregos, e uma bilha no chão, ao pé de um alguidar encarnado que servia de bacia. Na cama da esquerda, o Zacarias, o mais velho, rapaz de 21 anos, estava deitado com seu irmão Jeanlin, que estava a fazer 11; na da direita, dois petizes, o Henrique e a Leonor, esta de 6 anos e aquele de 4, dormiam abraçados um ao outro; a Catarina partilhava o leito com a sua irmã Alzira, tão enfezada para os seus 9 anos, que nem ela a teria sentido junto de si, se não fosse a corcunda da pobre enferma, que lhe entrava pelas costelas dentro. A porta de vidraça estava aberta, via-se o corredor do patamar, a espécie de cacifo em que o pai e a mãe ocupavam um quarto leito, onde tinham encostado o berço da mais nova, Estela, apenas de 3 meses.

Delgada para os seus 16 anos, [Catarina] não mostrava dos membros, por fora da bainha estreita da camisa, senão os pés azulados, como que tatuados do carvão (...).

[Catarina acorda o pai e todos os irmãos. Com o barulho, a irmã pequenina acorda também, assim como a mãe. Esta fala com o marido:]

- Já te disse que estou sem dinheiro nenhum, e é segunda-feira; seis dias ainda a esperar pela quinzena... Não há meio de aguentar até lá. Vocês todos trazem-me nove francos por dia; como querem que os sustente? Olha que somos dez bocas.
- Ora, nove francos! - grunhiu o Maheu. - Eu e o Zacarias, a três, são seis... A Catarina e o pai [dele], a dois, são quatro; quatro e seis, dez... E o Jeanlin, um, são onze.
- Sim, onze; mas há os domingos e os dias de folga... Nunca passa de nove, que to digo eu!
Ele não respondeu (...). Depois disse (...):
- E graças a Deus que ainda tenho saúde. Aos quarenta e dois, muitos vão para o calçado velho.

Os Operários da Minas, segundo o "Germinal" de E. Zola


II - O trabalho na mina


Um a um, caminhavam todos, sem dizer palavra, à luzinha das lâmpadas. O rapaz [Estêvão, um mineiro novo] tropeçava a cada passo, metia os pés pelos carris. (...)

Mais adiante apresentou-se uma encruzilhada, abriam-se duas novas galerias; e o bando dividiu-se outra vez, pouco a pouco os operários repartiam-se por todas as secções da mina. (...) Atrelados de churriões (1), cheios ou vazios, passavam constantemente (...) Portas de ventilação batiam, fechavam-se lentamente. E, à medida que se avançava, a galeria fazia-se mais estreita e mais baixa, de tecto desigual, forçando as espinhas a dobrarem-se continuamente.

O Estêvão, rudemente, batia com a cabeça. Se não fosse o chapéu de couro, ficava com o crânio rachado. Todavia, seguia com atenção, na sua frente, os menores gestos do Maheu, cujo perfil sombrio se destacava do clarão das lâmpadas. (...) O rapaz sofria também com o escorregadio do chão, cada vez mais encharcado. (...) Mas o que sobretudo o espantava eram as bruscas mudanças de temperatura.

[Os mineiros prosseguiram o seu caminho até ao local de extracção]Era o veio onde se encontrava o seu corte. Logo às primeiras passadas, o Estêvão esbarrou com a cabeça e com os cotovelos. O tecto, oblíquo, descia tanto, que, em comprimentos de vinte e trinta metros, era necessário caminhar dobrado em dois. Dava-lhe água pelos tornozelos. (...)Andou-se assim duzentos metros (...).

Ao cabo de uns quinze metros, encontrou-se o primeiro caminho secundário, mas foi necessário continuar, o corte do Maheu e dos companheiros era no sexto carreiro, nas profundezas do Inferno, como eles diziam; e, de quinze em quinze metros, os carreiros sobrepunham-se, a subida era um nunca acabar, através daquela fenda que esfolava as costas e o peito. O Estêvão agonizava - com as mãos alquebradas, as pernas magoadas, a faltar-lhe sobretudo o ar a ponto de sentir o sangue espirrar-lhe da pele. Vagamente, num carreiro, avistou dois animais agachados, um grande e outro pequeno, empurrando churriões; eram a Lídia e a do Mouque, já trabalhando. (...)



[Finalmente começaram a trabalhar]Os quatro cortadores acabavam de se estender uns por cima dos outros, em toda a subida do corte. Separados pelas tábuas de ganchos que dividiam o carvão, ocupavam cada um pouco mais ou menos quatro metros de veio; e esse veio era tão delgado, com os seus cinquenta centímetros apenas de espessura naquele ponto, que estavam como que entalados entre tecto e parede, rojando-se sobre os joelhos e os cotovelos, sem se poderem virar que não magoassem as espáduas. Para cortarem a hulha tinham que estar deitados de lado, com o pescoço torcido, os braços erguidos, e brandindo de viés a picareta de cabo curto.




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(1) Churrião

No contexto: espécie de cesto ou vagão usado nas minas para transportar o minério. Pode rodar sobre carris e ser puxado por pessoas ou por animais.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

ESTADO NOVO:A PROPAGANDA

Abordámos o assunto na aula, mas nada melhor do que ver para compreender melhor.

Lembremos que, para comemorar os dez anos de permanência no poder de Salazar (1938), o Ministério da Educação Nacional mandou publicar uma série de sete cartazes intitulada: A Lição de Salazar. Esses cartazes, cujas dimensões eram, aproximadamente, as do quadro preto da sala de aula, foram distribuídos por todas as escolas primárias do País e a lição do dia devia ser dada através deles. Só o último não respeita o esquema dos restantes. Aqui os deixo

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Posteriormente - e paralelamente - os livros de estudo da escola primária iam publicando, de acordo com as idades, referências laudatórias ao ditador. Para os meninos da 1.ª classe, que aprendiam a escrever:


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Aos mais crescido, da 4.ª classe, já se lhes falava assim:



Ao mesmo tempo, os gritos da Mocidade Portuguesa e da Legião Portuguesa - reproduzidos nos mesmos livros escolares para que todas as crianças os repetissem - eram os seguintes:

"Quem Vive?
Salazar!
Quem manda?
Salazar!Salazar!Salazar!"


Nada, no Pais, escapava a tão intensa propaganda. Eis alguns exemplos:



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Claro que pus aqui a imagem de D. Afonso Henriques, somente, para que possas compreender melhor a que ponto se chegou no endeusamento da figura do ditador António de Oliveira Salazar.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

CANÇÕES PARA ABRIL

JOSÉ AFONSO: OS EUNUCOS



Os eunucos devoram-se a si mesmos
Não mudam de uniforme, são venais
E quando os mais são feitos em torresmos
Defendem os tiranos contra os pais

Em tudo são verdugos mais ou menos
No jardim dos haréns os principais
E quando os mais são feitos em torresmos
Não matam os tiranos pedem mais

Suportam toda a dor na calmaria
Da olímpica visão dos samurais
Havia um dono a mais na satrapia
Mas foi lançado à cova dos chacais

Em vénias malabares à luz do dia
Lambuzam da saliva os maiorais
E quando os mais são feitos em fatias
Não matam os tiranos pedem mais.


SÉRGIO GODINHO: MARÉ ALTA


Aprende a nadar, companheiro
aprende a nadar, companheiro
Que a maré se vai levantar
que a maré se vai levantar
Que a liberdade está a passar por aqui
que a liberdade está a passar por aqui
que a liberdade está a passar por aqui
Maré alta
Maré alta
Maré alta


PORTUGAL RESSUSCITADO – Ary dos Santos / Pedro Osório


Depois da fome, da guerra
da prisão e da tortura
vi abrir-se a minha terra
como um cravo de ternura.

Vi nas ruas da cidade
o coração do meu povo
gaivota da liberdade
voando num Tejo novo.

Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido

Vi nas bocas vi nos olhos
nos braços nas mãos acesas
cravos vermelhos aos molhos
rosas livres portuguesas.

Vi as portas da prisão
abertas de par em par
vi passar a procissão
do meu país a cantar.

Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido

Nunca mais nos curvaremos
às armas da repressão
somos a força que temos
a pulsar no coração.

Enquanto nos mantivermos
todos juntos lado a lado
somos a glória de sermos
Portugal ressuscitado.

Agora o povo unido
nunca mais será vencido
nunca mais será vencido.


JOSÉ AFONSO: GRÂNDOLA, VILA MORENA


Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina, um amigo
Em cada rosto, igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto, igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola, a tua vontade

Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade

quarta-feira, 7 de março de 2012

O NAZISMO

O receio do comunismo (burguesia) e a crença nas promessas de trabalho (desempregados) granjearam a simpatia popular pelo Nacional Socialismo.

Tomada do poder:

1932 O Partido Nazi vence as eleições: Hitler é nomeado Chanceler e inicia de imediato o assalto ao poder.
........Incêndio no Reichstag (Parlamento). Os comunistas são acusados.

1933 Março – Eleições dão vitória ao Partido Nazi. Hitler pode organizar o Estado Totalitário:
........Março – dissolução dos sindicatos;
........Julho – Dissolução de todos os partidos políticos, à excepção do Partido Nazi.
........Julho – Mudança dos símbolos nacionais que passarão a ser os nazis: a suástica.

1934 – Por morte do Presidente da República (Hindenburg), Hitler assume as suas funções, inaugurando o III Reich, Estado totalitário que obedece à seguinte fórmula: um só chefe(1), um só Estado(2), um só Povo(3), escrita no Mein Kampf.
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(1) Hitler, o Führer (chefe)

(2) Corresponde à “Grande Alemanha” – territórios do Sacro Império Romano-Germânico (o I Reich). Esta ideia conduz ao expansionismo Alemão, de forma a ocupar territórios que considera seus: Áustria, Checoslováquia, parte da Polónia e da França.

(3) É o “povo ariano”, o único que poderia viver no solo do Reich. Trata-se, obviamente, de um princípio racista, baseado na crença de que há raças inferiores e uma que é superior. A judeus e ciganos era negada a condição humana e o direito à existência. O racismo nazi assume, predominantemente, o aspecto de anti – semitismo.
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Manutenção no poder:

para pôr em prática a sua doutrina, os nazis, enquanto violam o Tratado de Versalhes,

criam um poderoso exército, numeroso e bem armado;

semeiam o terror entre judeus e opositores, através da sua polícia política – a Gestapo – que controla numerosas prisões e campos de concentração nos quais praticam o genocídio dos judeus. A Gestapo conta com o auxílio das SS (milícias do partido);

doutrinam toda a população, particularmente a juventude, organizada na Juventude Hitleriana que fanatiza os jovens nos ideais da raça, do ultra-nacionalismo e da violência;

mantêm uma poderosíssima máquina de propaganda: na rádio, no cinema, no teatro, revistas, jornais, livros, só é ouvida a voz dos que elogiam o Führer e cantam a grandeza da Alemanha. Os nazis fizeram fogueiras com todos os livros escritos por judeus;

lançam um intenso programa de obras públicas que cria infra-estruturas e gera emprego e riqueza. O emprego é também estimulado pelo crescimento dos exércitos, polícias e funcionalismo público, bem como pelo intenso programa de armamento (que estimula igualmente a produção industrial) e, ainda, pela negação do direito ao trabalho dos judeus.

Acontecimentos que conduzirão o Mundo à guerra:

1935 (13 de Jan.) A Alemanha ocupa o Sarre

1936 (7Mar.) A Alemanha reincorpora a Renânia

1938 ( Mar.) A Alemanha anexa a Áustria (Anschluss)
........(29 Set.) A Alemanha ocupa os Sudetas (territórios da Checoslováquia), o que foi aceite pela Conferência de Munique)

1939 (16 Mar.) A Alemanha anexa a Boémia, Morávia e Eslováquia, fazendo desaparecer a Checoslováquia.
........(22 Maio) Pacto de Aço entre a Alemanha e a Itália
........(23 Ago.) Pacto de Não Agressão Germano-Soviético
........(1 Set.) A Alemanha ocupa a Polónia. Início da II Guerra Mundial