domingo, 27 de outubro de 2013

Os Operários da Minas, segundo o "Germinal" de E. Zola


I - A família e a casa

Em casa dos Maheu, no número 16 do segundo bloco, nada se tinha movido. Trevas espessas afogavam o único quarto do primeiro andar, como que esmagando com seu peso o sono das criaturas que se adivinhavam ali a monte (...). Apesar do frio vivo do exterior, o ambiente, pesado tinha um calor de vida, esse cheiro requentado dos mais asseados dormitórios, que cheiram a gado humano.

Deram quatro horas no cuco da sala do rés-do-chão (...). Bruscamente, a Catarina levantou-se. Apesar do cansaço, tinha, pela força do hábito, contado as quatro badaladas do relógio, através do soalho, sem encontrar forças para acordar de todo. Depois, com as pernas de fora da roupa, apalpou, riscou um fósforo e acendeu a vela de sebo. Mas ficara-se sentada à beira do enxergão, com a cabeça tão pesada que se lhe bamboava de ombro para ombro, cedendo à invencível necessidade de tornar a cair sobre o travesseiro.

Agora, a vela alumiava o quarto, quadrado, com duas janelas, atravancado com três camas. Havia ali um armário, uma mesa, duas cadeiras de velha nogueira (...). E mais nada, a não ser trapos suspensos de pregos, e uma bilha no chão, ao pé de um alguidar encarnado que servia de bacia. Na cama da esquerda, o Zacarias, o mais velho, rapaz de 21 anos, estava deitado com seu irmão Jeanlin, que estava a fazer 11; na da direita, dois petizes, o Henrique e a Leonor, esta de 6 anos e aquele de 4, dormiam abraçados um ao outro; a Catarina partilhava o leito com a sua irmã Alzira, tão enfezada para os seus 9 anos, que nem ela a teria sentido junto de si, se não fosse a corcunda da pobre enferma, que lhe entrava pelas costelas dentro. A porta de vidraça estava aberta, via-se o corredor do patamar, a espécie de cacifo em que o pai e a mãe ocupavam um quarto leito, onde tinham encostado o berço da mais nova, Estela, apenas de 3 meses.

Delgada para os seus 16 anos, [Catarina] não mostrava dos membros, por fora da bainha estreita da camisa, senão os pés azulados, como que tatuados do carvão (...).

[Catarina acorda o pai e todos os irmãos. Com o barulho, a irmã pequenina acorda também, assim como a mãe. Esta fala com o marido:]

- Já te disse que estou sem dinheiro nenhum, e é segunda-feira; seis dias ainda a esperar pela quinzena... Não há meio de aguentar até lá. Vocês todos trazem-me nove francos por dia; como querem que os sustente? Olha que somos dez bocas.
- Ora, nove francos! - grunhiu o Maheu. - Eu e o Zacarias, a três, são seis... A Catarina e o pai [dele], a dois, são quatro; quatro e seis, dez... E o Jeanlin, um, são onze.
- Sim, onze; mas há os domingos e os dias de folga... Nunca passa de nove, que to digo eu!
Ele não respondeu (...). Depois disse (...):
- E graças a Deus que ainda tenho saúde. Aos quarenta e dois, muitos vão para o calçado velho.

2 comentários:

emily oliveira nº13 9ºF disse...

stora ja vi o blog para estudar

Fátima Pereira Stocker disse...

Fizeste bem, Emily. Amanhã terás por onde aproveitar.